Interview with Marta Fernandes
Cinema Ideal, Lisboa
In a series of interviews with the exhibitors on its Validation Committee, Europa Cinemas takes stock of the situation facing independent exhibitors across Europe during this time of crisis.
1 – First of all, how are you?
Fine, thank you
2 – How are you managing this unprecedented situation from a professional point of view? Are you working at the moment? Do you have any income?
The cinema staff is at home. The state is contributing a small proportion of their salary, the company is still paying the rest.
Since 13 March, when we decided to close the Cinema Ideal, we have had no money coming in, but we still have most of our financial outgoings, which is of course very worrying.
3 – Are there any projects that you have found useful for keeping your activity going? What have you been able to set up? Do these initiatives change your core activity in any way?
We have continued with our presence on social media, sharing photographs of the cinema and other posts, articles about the challenges theatres are facing and how certain VIPs or authorities have already registered their intention to provide support. These posts give rise to a fair amount of interaction with followers, showing that the cinema has a loyal audience, who are missing going to the movies and clearly intend to return. They need motivation and encouragement to keep going.
With its doors closed, the cinema is unable to fulfil its primary purpose which is to show the best of world cinema. Anything else we do is going to fall short of this, but we decided to “open the doors” with an online screening. We are promoting a free online screening of a documentary about Portuguese Fado singer Aldina Duarte, not only because she’s an enthusiastic filmgoer and a friend of the Cinema Ideal, but also because she chose our cinema for the launch of her latest album.
Also, although this does not mean a return to the cinema, we are encouraging people to watch and hire films from the online tv videoclub and on the Filmin platform, because this is vital for the survival of the independent distributors who premiere their films at the Cinema Ideal. We are also considering the possibility of creating a VOD platform to show some of the films that have premiered at the Ideal. When the cinema reopens this would be complementary to our programme, giving it a boost.
4 – Do you think these new activities might continue after the pandemic is over? Are there going to be new rules for cinemas, new ways of doing things?
Yes, the platform we are thinking of setting up may come to supplement future screenings at our cinema.
Above all, we have to realise that reopening will not mean a “return to normality”. There will be many months in which people’s relationship to their environment will go through significant changes. Right now, there’s been a complete change in cultural consumption, from taking place in the public arena and in showrooms to happening in people’s homes. But we think that so long as people’s safety can be guaranteed, they will want to come back and enjoy these activities together.
5 – What has been the response of the Portuguese State and regional institutions in helping movie theatres?
In Portugal there has been no measure announced to date by the Instituto do Cinema or other local bodies for specific support for cinemas, despite all the efforts made in this regard.
6 – What are your greatest concerns for the coming months? What do you think will happen when you’re allowed to reopen? In your relationship with your audiences, are you fearful or quite optimistic?
We will be faced with a series of challenges when reopening the cinema. First of all, what conditions will need to be in place to allow reopening? These have not yet been announced, even though the Government has already stated its intention to begin planning the reopening of theatres with numbered seating. There will have to be strict limits on the number of seats. There will probably also have to be a longer interval between screenings to reduce audience interaction. There will also need to be hygiene facilities in place to guarantee health protection for both cinema staff and audiences.
On the other hand, we are particularly concerned about people’s confidence to return to the cinema and be in groups after all this time of confinement, especially since a significant proportion of our audiences are in the older age bracket and are therefore among the groups at greatest risk.
When it comes to programme scheduling, this will also be an enormous challenge because premieres, films and events will have backed up. There will be films that premiered just before the cinemas were closed down and in some cases it makes perfect sense to show them again to give them their run in the cinema. Then there are all the premieres that were scheduled for this period of lockdown and the festivals that postponed their dates.
We hope to survive this crisis and we are certain that we will reopen with the best possible programme and that we will continue to count on our loyal cinemagoers. We believe, as we have stated on our cinema doors, that “vai ficar tudo bem” (all will be well).
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May 2020
Belén Molla Diez
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Entrevista Marta Fernandes
Cinema Ideal, Lisboa
1 - Antes de tudo, como está?
Bem, obrigada.
2 - Do ponto de vista profissional, como administra esta situação única? Você e os seus colegas estão trabalhando? Você tem algum rendimento?
Os trabalhadores do cinema estão em casa. O Estado contribui com uma pequena parte do seu salário, a restante continua a ser paga pela empresa.
Desde o dia 13 de Março, data em que decidimos encerrar o Cinema Ideal, que não temos receitas, no entanto, mantêm-se a maioria dos nossos encargos financeiros, algo para que olhamos com natural preocupação.
3 - Que projetos achou interessante para manter a atividade, e quais conseguiu montar? Estas ações modificam de alguma forma o núcleo da sua atividade?
Temos mantido a actividade nas redes sociais, partilhando fotografias do cinema e outras publicações, artigos relativos aos desafios que as salas de cinema enfrentam e como algumas personalidades ou governos já manifestaram intenções de apoiar. São publicações com que os seguidores interagem bastante, mostrando que existe um público que é fiel à sala, que sente falta de ir ao cinema e que manifesta intenção de voltar. Desejam força e ânimo para continuar.
De portas fechadas, o cinema deixa de poder cumprir a sua missão: apresentar o melhor cinema do mundo. Tudo o que pudéssemos desenvolver ficaria aquém, mas resolvemos “abrir as portas” com uma sessão online. Promovemos uma sessão gratuita online de um documentário sobre uma artista portuguesa, a fadista Aldina Duarte, não só porque é uma espectadora assídua e amiga do cinema Ideal, mas também porque escolheu o cinema para apresentar muito recentemente o seu último disco.
E, apesar de isso não significar um retorno para o cinema, incentivámos as pessoas a ver e alugar filmes nos serviços de videoclube das televisões e na plataforma Filmin, já que isso é essencial para a sobrevivência dos distribuidores independentes que estreiam os seus filmes no Cinema Ideal. Estamos também a estudar a hipótese de criar uma plataforma VOD do próprio que possa oferecer alguns dos filmes estreados no Ideal e quando o cinema reabrir complementar e reforçar a sua programação.
4 - Acha que essas novas atividades podem continuar após o período pandémico? Serão estabelecidas novas formas e regras para as salas de cinema?
Sim, a plataforma que estamos a pensar criar pode vir a funcionar como um complemento à programação futura no Cinema.
E sobretudo devemos pensar que a reabertura não significará um “regresso à normalidade”. Seguir-se-ão muitos meses em que a relação das pessoas com o seu meio envolvente sofrerá profundas transformações. Neste momento, houve uma total mudança do consumo cultural que deixou de ser feito em locais públicos e salas de espectáculo e passou a ser feito em casa. Mas acreditamos que desde que garantidas as condições de segurança as pessoas terão vontade de regressar e usufruir em conjunto dessas actividades.
5 - Quais são as iniciativas do Estado e das instituições públicas regionais e locais para ajudar as salas de cinema neste período de crise? Existem apoios financeiros? Se não, eles estão sendo considerados?
Em Portugal, neste momento, não existe nenhuma medida anunciada do Instituto do Cinema ou de outras entidades locais para apoio concreto aos cinemas, apesar de todos os esforços desenvolvidos nesse sentido.
6 - Quais são as suas maiores preocupações para os próximos meses? Como vê a recuperação? Tem planos para um evento especial? Na sua relação com o público, tem algum medo ou, pelo contrário, vê razões para otimismo?
Há uma série de desafios que se colocarão na reabertura da sala. Em primeiro lugar, em que condições será possível reabrir e que não foram ainda anunciadas, apesar do Governo ter já manifestado uma intenção de começar a delinear a reabertura de recintos de espectáculos desde que tenham lugares marcados. A lotação da sala terá de ser muito limitada. Provavelmente será também necessário existir um intervalo maior entre sessões de forma a que menos pessoas se cruzem. E será necessário que em termos sanitários sejam garantidas condições que ofereçam segurança para funcionários do cinema e espectadores.
Por outro lado, a confiança das pessoas depois de todo este tempo de confinamento para voltar a ir ao cinema e estar em grupo é algo que vemos com maior preocupação quando sabemos que temos uma parte importante do nosso público nas faixas etárias mais envelhecidas e portanto entre os grupos de maior risco.
Em termos de programação, será também um enorme desafio porque se acumularão estreias, filmes e eventos. Há os filmes que estrearam imediatamente antes do encerramento das salas e que em alguns casos faz todo o sentido retomar e permitir-lhes fazer a sua carreira em cinema, todas as estreias que estavam programadas para estas semanas de confinamento e os festivais que adiaram as suas datas.
Esperamos sobreviver a esta crise e estamos certos que reabriremos com a melhor programação possível e que continuaremos a contar com os nossos fiéis espectadores. Acreditamos, como escrevemos nas portas do cinema, que “vai ficar tudo bem”.
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Maio 2020
Belén Molla Diez
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